Quem sou eu

Alguém que prefere usar as palavras à usar as pessoas.

segunda-feira, outubro 02, 2006

Elizabethtown

(fase racional)

Alguém, fora eu, já passou por uma fase onde nenhum sentimento importa?
Não por estar insensível ao mundo, mas simplesmente por se estar pensando.
Uma fase que não nos traz frustrações nem sonhos, nem perdas nem vitórias, nada de ódio e nada de amor, uma fase pura e simplesmente racional onde todos os riscos são sempre analisados por antecipação e nunca enfrentados por decisão própria.
Eu estou nessa fase.
Junto a isso, nesse momento da minha vida, eu vi todos os meus problemas de amores e histórias mal resolvidas tornarem-se resolvidas, o que é de fato ótimo.
Porém um mal sempre traz um bem e um bem sempre gera um mal. É o tal do equilíbrio. Nesse caso a solução de todos meus problemas sentimentais deu espaço ao tédio e além do vazio atual eu nem tenho nada saudosista que compense ficar relembrando. Mais do que isso, eu não tenho nada para relembrar.
Também não tenho nenhuma aspiração a alguém inatingível para se tornar atingível no futuro e não estou praticando o verbo que eu e a Paloma criamos: O de “kamikazear”.
Para quem não sabe Kamikazear é a arte de ser kamikaze. Mesmo quando sabemos que estamos indo direto para a morte, nós vamos e vamos felizes. Graças a Deus no sentido figurado e é claro, no sentido amoroso da coisa.
Um dos motivos que geraram esse meu momento racional foi o meu cansaço. Mais especificamente o cansaço do meu coração. E eu junto a ele, de acordo com minha amiga, me tornei essa pessoa cruel e insensível que quando vê alguém kamikazeando e protagonizando cenas melodramáticas acabo dizendo frases de consolo do tipo:
Não se preocupe, você sobrevive!
Não sou capaz de sentir pena de ninguém que chora ou sofre por amor e não estou com a menor paciência para essas coisas.
Pensando nessa eu atual, eu nem consigo me lembrar daquela Denise que eu era nem das coisas que eu idealizava. Também não consigo acreditar nas minhas próprias verdades.
A única coisa que eu tenho pedido para Deus (que é minha única verdade absoluta) é paciência. Paciência para eu agüentar as pessoas ao meu redor nesse momento, e para estas me agüentarem também (visto que nem eu estou me suportando).
Não que eu queira voltar a ser quem eu era. Quero apenas encontrar o equilíbrio entre a razão e o sentimento e as vezes não vejo caminho para isso.
Mas quando assisto filmes como Elizabethtown e me identifico com alguns personagens, quando me emociono com a viúva incompreendida que de início parece insensível ao esposo que acaba de falecer e na verdade, estava simplesmente tentando entender como seria a vida sem a pessoa que ela mais amava, quando empatizo com o filho que se dá conta de que não terá como recuperar o tempo que ele não viveu ao lado do seu pai e quando eu me dou conta de que assistindo um simples filme, eu chorei do início ao fim, percebo que ainda há uma esperança.
Que mesmo momentaneamente insensível ainda existe uma ínfima essência daquela velha Denise. E que mesmo cansado o meu coração ainda vive.
Ou...
sobrevive.

Um comentário :

Anônimo disse...

então... acho que o filme fala disso... às vezes achamos que a "tranquilidade" e a "segurança" são tudo mas na verdade não são nada, pois sempre vem algo ou alguém pra virar sua vida de cabeça pra baixo e independente da alegria, dor, felicidade, tristeza ou qualquer sentimento que possa vir junto o que vem é a sensação de sentir vivo e sensível a qualquer expressão de vida que nesses momentos ficam obscuros. O bom de tudo que o novo vem, muda rotas, caminhos, direção e traz você de volta aquilo que você é...