Quem sou eu

Alguém que prefere usar as palavras à usar as pessoas.

sexta-feira, julho 07, 2006

O gafanhoto e o tempo...

Dias atrás tive um sonho. Sonhei com um gafanhoto. E sabe aqueles sonhos que permanecem claros quando acordamos, nos intrigam e não tem nada relacionado com o que aconteceu no nosso dia, nem com nossa vida? Fiquei tentando em vão traduzi-lo.
Lembrei de um livro de sonhos que ganhei de um amigo há um tempo atrás. A dificuldade seria achá-lo. Quando eu mudei de casa, perdi muita coisa e ainda ficou muito sem arrumar. E este livro provavelmente estaria junto com muitos outros, em um quarto que ainda não está acabado, dentro de uma estante.
Como a noite o sonho continuava claro e martelando na minha cabeça, resolvi encarar a bagunça e procurar o bendito do livro.
Só pra esclarecer, eu não tenho uma semi-biblioteca abandonada em meu lar. A maioria dos livros, digamos que quase 80% sejam didáticos que foram se acumulando desde a época de estudos dos meus pais, passando pelos meus dois irmãos e acabando em mim, que fui a campeã em adquirir didáticos.
Mas voltando ao gafanhoto, digo, ao sonho, já era noite e o quarto onde estavam os livros não tem lâmpada. Peguei uma lanterna pequena, e lá fui eu procurar a “agulha no palheiro”. Comecei a mexer aqui, remexer dali e o que era pra ser uma procura acabou virando uma volta no tempo.
A primeira coisa que me surpreendeu, foi uma foto. Eu devia ter uns nove anos. Só de olhar já comecei a rir daquela coisa magrela e muito barriguda dentro de um maiô vermelho de manga e fiquei lembrando da confraternização de fim de ano do Teatro Amador Gênesis. Eu era a única criança no meio de um monte de marmanjos e devido a isso era mimada por eles. Mas só nas confraternizações, porque quando se tratava do teatro em si, sempre fui cobrada como “gente grande”. Lembro que muitas vezes cheguei a ficar bicuda por não entender nada daquela cobrança. Fora os “bicos” o teatro foi umas das melhores coisas que aconteceu na minha infância e é uma pena eu não ter maiores recordações. Eu daria tudo pra ter uma foto da peça “Anjos ou Marginais”. Quando eu fiz essa peça, realmente eu não tinha noção da importância dela, nem muito menos do meu papel dentro dela. Viajei na foto.
Logo depois eu achei o livro “Meninos sem Pátria” de Luiz Puntel. Esse foi o primeiro livro que eu li na minha vida. Dica da Belkis, uma das integrantes do próprio teatro. A Bel era a “doida” do teatro, era totalmente “zen”. Pra ela tudo tinha que ser vivido ao extremo e se alguém fosse dar um bom exemplo de vida, com certeza não a apontaria. Para mim, a Bel foi simplesmente a pessoa que fez eu criar uns dos melhores hábitos na minha vida. O de ler!
Um dia ela me perguntou do nada quantos anos eu tinha e eu respondi que tinha dez e ela já retrucou que estava na hora de começar a ler a Coleção Vaga-Lume. Até então, ninguém tinha me falado que eu tinha que ler, nem tão menos dado dica do que e talvez se não fosse a “doida” até hoje eu não saberia. Esse livro é extremamente simples. Para quem está acostumado a ler, pode parecer até sem importância alguma. Mas eu nunca esqueci dele, principalmente das partes onde o pai aconselha o filho naquelas fases críticas da vida de “aborrescente” ensinando-o a melhorar de uma bebedeira ou quando ele explica para o filho que a melhor forma de se conquistar um amor é sendo um amigo, porém não um amigo chato. Depois achei um diário do meu ano de 95, no meio da bagunça. Comecei a ler ali mesmo, e ninguém faz idéia do tanto que eu ri de mim mesma. Parecia uma louca, sentada numa sala escura, segurando uma lanterninha e lendo partes da minha loucura do auge dos meus doze anos. Aliás, o idadezinha movimentada! O mais engraçado mesmo foram os versos e os poemas que eu costumo escrever quando não posso escrever claramente o que está acontecendo. Na época eu já tinha esse hábito. Alguns pareciam que eu tinha escrito quando estava prestes, ou a matar um, ou me jogar da janela. Quem me chama de dramática hoje provavelmente não me conheceu naquela época. Mas tinham uns que eram bonitinhos e outros bem atuais e me dei conta que certas coisas não mudam mesmo.
Por fim achei dois pares de sapato e uma bota. Praticamente novos! E eu que estava desesperada pra comprar um sapato e estou sem dinheiro, me senti achando ouro no navio afundado!
Achei! Pronto! Achei o livro dos sonhos. Hummm... Deixa eu ver o índice.
Insetos e animais:
barata...
formiga...
vespa...
borboletas e mariposas...
caracol...
minhoca...
Nada de gafanhoto! Nenhuma explicação para o meu sonho.
Aff! São quase duas e eu aqui ainda!
Olha, do sonho não descobri nada. Mas o meu passado merece um lugar especial. Eu preciso dar um jeito nessa sala e nesses livros. E logo!

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