Quem sou eu

Alguém que prefere usar as palavras à usar as pessoas.

quinta-feira, junho 08, 2006

Amores da Minha Vida

Conquistar é sempre uma árdua tarefa. Para as mulheres geralmente é sofrida, para os homens geralmente é cara. Mesmo porque mulheres escrevem carta, fazem cenas, inventam desculpas e histórias só pra poder ver ou ouvir a voz do referido. Já para os homens quando querem conquistar a todo custo, eles se transformam em românticos fanáticos e fazem tudo que toda mulher sonha. Viram motoristas a postos, prestam atenção em tudo, decoram todos os nossos caminhos e horários, gastam, gastam, e gastam com presentinhos que vão desde os simples e bem aceitos bombons, passam pelo tradicional buquê de flores, jantar a luz de vela e vão até caríssimos quartos de motel. De vez em quando, mas muito de vez em quando mesmo, a receita funciona. E antas patagônicas (como eu) caem no conto da carochinha.
Só que vão se passando os dias, as semanas, os meses, os anos... e o que era um príncipe encantando e romântico vai “ensapando” pouco a pouco. Eles abolem primeiro o bombom (mas é claro, ele está te ajudando porque, naquele período de conquista regado a bombons e jantares, você acabou engordando) depois eles já não lembram mais de abrir a porta do carro, porque você é uma mulher atual, moderna, independente e pode muito bem usar as mãos. O tempo vai passando e ele vai esquecendo do dia das mulheres, trocam rapidamente o caminho da floricultura pelo do bar da esquina e com o tempo eles já esquecem dos presentes de natal, e até do aniversário. Afinal de contas você é uma mulher altruísta, compra e tem tudo o que precisa, então logo, pra que presentes? Só um abraço já é mais do que suficiente.
Então esse é resumo do que se transforma a vida das mulheres em um modo geral.
Mas pra mim, todo mal é pouco, porque eu devo ter sido uma mulher muito ruim na outra vida, ou nesta mesmo, sei lá. E como diz meu caro amigo Edmur, meu nome pode ser Denise, mas meu sobrenome é Zica.
No meu caso, além de tudo isso, eles também vão esquecendo de pagar as contas cotidianas (não as minhas, as deles), mas como é uma ou outra não tem problema, só que o caso vai ficando cada vez mais grave e quando eu percebo eu já estou sem poder comprar nada pra mim, no máximo uma calça de seis em seis meses, em seis vezes sem juros daquela liquidação ali da esquina. Em compensação pra nós eu já estou pagando, desde o convênio dentário, até o convênio médico e desde a prestação do carro (que só ele dirige, porque homens dirigem melhor), até o licenciamento, as multas (que ele leva dirigindo muitíssimo bem) até a prestação do apartamento e etc.
E o pior de tudo, eu não posso usufruir de nada disso, porque ele se preocupa comigo. Se eu quiser ir com o carro pra minha casa pelo menos uma vez por mês, eu tenho que começar a brigar já na primeira semana do mês, e ainda tenho que colocar a gasolina.
Só que todo mundo um dia acorda, uns demoram mais, outros menos, mais uma grande maioria acaba mandando o sapo (já com chapéu, claro) pra lagoa. Antes claro, nós vamos avisando, olha meu amor, você não era assim, amor mal cuidado também acaba, eu sinto falta disso e daquilo, até que você se enche de ficar falando, mede a distância exata entre o seu pé e a bunda dele e dá um pontapé certeiro no traseiro do infeliz.
É nessa hora que tudo muda, ele descobre que realmente durante todo o tempo estava errado, e descobre mais, descobre que pode mudar, que pode fazer tudo diferente e pode fazer tudo melhor. E é aí que ele volta a fazer tudo o que fazia no começo e até um pouco mais.
Só que aí você já sabe que é só uma crise temporária, e quando recebe flores e presentes não acha a menor graça e nem sente a menor gratidão.
Só que ele também já está viciado em seus erros e nesta acaba cometendo erros bizarros. Comigo, mais bizarros do que de costume.
Por exemplo: Numa dessas crises, o meu sapo de chapéu, resolveu me presentear com um buquê de rosas enorme e lindo que não me causou a menor alegria, e que sinceramente eu preferia ter recebido nos bons tempos quando eu conseguiria retribuir à altura. Não preciso nem dizer que o meu sapo de chapéu recebeu de volta apenas um seco e frio: “Obrigada”.
Mas o meu sapo de chapéu mostrou que é realmente um homem especial.
Além de um "gentleman" (por mandar as flores num momento nada próprio) também é um "metrossexual" desprovido de qualquer preconceito.

Passado uns dias das flores, o referido me mandou também, nada mais nada menos, que a conta! Sim, a conta das flores que eu ganhei, para eu mesma pagar!
E eu por minha vez também mostrei que sou uma mulher superior e desprendida de paradigmas como o machismo ou feminismo.
Fui mulher o suficiente para receber as flores (que eu deveria ter tacado na fuça dele), fui macho o suficiente para pagar a conta e ainda tive humor para deixar um recado de agradecimento em sua querida caixa postal.

_Amor! Muito obrigada pelas flores, eu adorei! Mas a conta realmente não precisava! De qualquer forma obrigada. Mas só uma perguntinha: Como você faz quando manda flores pra sua mãe?



Observação: A mãe dele jaz mui respeitosamente em uma das quadras do cemitério da saudade.

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